23 agosto 2013

Ensino de filosofia sob a perspectiva analítica e continental


1. A origem da distinção entre filosofia continental e analítica


             A filosofia é uma atividade teórica que se iniciou com os gregos há 2600 anos e possibilitou, através da argumentação lógica e da permanente disposição para a busca da verdade, o surgimento de várias das ciências naturais e humanas desenvolvidas no ocidente. Além de sua contribuição para o desenvolvimento científico, a filosofia também estabeleceu bases para a vida moral, para a reflexão política, religiosa e artística.
             Por sua longa história, é facilmente perceptível que tenha havido não apenas uma, mas várias filosofias tipificadas pelos “sobrenomes” recebidos de acordo sua filiação a determinada escola de pensamento: platônica, aristotélica, cética, cristã, árabe, cartesiana, kantiana, nitezscheana etc.
   
         Quando falamos, no entanto, de filosofia continental e filosofia analítica, não estamos nos referindo a uma escola particular e suas tradicionais respostas aos problemas filosóficos. Tampouco estamos tratando de um ramo temático da filosofia como quando falamos de filosofia política, filosofia da ciência ou filosofia moral. A diferença entre a filosofia continental e a filosofia analítica deve-se ao modo como os filósofos de cada uma dessas tradições fazem filosofia. Trata-se de um desacordo de método que, do ponto de vista histórico, causou um distanciamento mútuo entre os filósofos mais alinhados com a tradição britânica (embora muitos deles fossem austríacos ou alemães) e os filósofos do continente europeu (que por razões óbvias ficaram conhecidos como continentais).              Para entender esse distanciamento é útil recorrer à história dessa divisão.
             A filosofia kantiana (século XVIII) procurou estabelecer os limites da razão pura, ou seja, da metafísica. Segundo o Immanuel Kant, a metafísica prometia mais sucesso ao investigar as condições de possibilidade do conhecimento (a priori) do que ao tentar oferecer um conjunto de conhecimentos filosóficos, todos disputáveis. Essa seria a causa da falta de consenso em questões metafísicas. O filósofo prussiano também distinguiu dois tipos de juízos: os analíticos e os sintéticos. Enquanto os juízos analíticos têm o predicado contido no sujeito (por exemplo: Todo solteiro é não casado) os juízos sintéticos acrescentam uma nova informação, sintetizando dois conceitos não imediatamente interligados (por exemplo: todos os solteiros são felizes). Os juízos sintéticos são próprios das ciências empíricas, ao passo que os juízos analíticos são geralmente das ciências formais como a matemática e a lógica. De acordo com a perspectiva kantiana, nosso conhecimento se restringe ao fenômeno (do grego= aquilo que aparece), entendido aqui como os dados empíricos (a posteriori) condicionados pelas formas puras a priori da sensibilidade e pelas categorias puras a priori do entendimento. Todos aqueles conceitos tradicionais da metafísica como: Deus, alma e mundo são apenas passíveis de especulação, mas nunca de conhecimento.
          Duas correntes filosóficas surgem a partir do pensamento kantiano: a idealista e a positivista. A primeira enfatizou a sugestão de Kant de que só conhecemos nossas próprias ideias e, de uma certa maneira, construímos o mundo segundo nossa própria subjetividade. Os positivistas procuraram afastar a metafísica do domínio científico, priorizando o último e recusando qualquer verdade a priori que não fosse matemática ou lógica.
             Paralelamente a isso, temos uma renovação da lógica com o desenvolvimento da lógica matemática por Frege e Russell, possibilitando a resolução de vários problemas com a introdução de símbolos e cálculos proposicionais. Nesta esteira Wittgenstein lançou seu Tractatus logico-philosophicus (1921) onde propôs que:
O objetivo da filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos. A filosofia não é uma doutrina, mas uma atividade. Um trabalho filosófico consiste essencialmente em elucidações. O resultado da filosofia não é ‘proposições filosóficas’, mas o esclarecimento das proposições. A filosofia deve tornar claros e delimitar rigorosamente os pensamentos, que de outro modo são como que turvos e vagos. (WITTGENSTEIN, 1995, pp. 62-63)

Sob o aspecto abordado por Wittgenstein, o papel da filosofia é analítico, de modo que a análise lógica da linguagem permite eliminar os falsos problemas advindos do uso equivocado dos conceitos e proposições. As proposições, por sua vez são verdadeiras ou falsas de acordo com nosso conhecimento empírico ou de acordo com as relações lógicas estabelecidas. Qualquer proposição que não seja derivada de uma dedução ou que não exprima uma situação verificável empiricamente é simplesmente uma frase sem sentido, sobre a qual não é possível dizer nada. Esse valor atribuído à análise lógica da linguagem deu origem à filosofia analítica. Um grupo de filósofos e cientistas fundando em 1929, o Círculo de Viena, ajudou a divulgar esse modo de fazer filosofia e, embora haja muito o que criticar no positivismo lógico (ou empirismo lógico ou neopositivismo como também fora chamado o movimento) não é possível negar que tal corrente contemporânea tenha influenciado o modo como se compreende a filosofia atual. Também não é difícil perceber que a Grã-Bretanha tenha aderido ao programa analítico da filosofia, já que essa ilha vinha de uma longa tradição empirista, surgida com suas primeiras universidades ainda na Idade Média.
                Na sequência do idealismo alemão, por sua vez, houve uma ênfase muito grande na história das ideias, consequência da filosofia hegeliana que procurou dotar a história de racionalidade dialética em busca de sua realização absoluta. A filosofia continental que se segue enfrentou uma fragmentação muito grande, com objetivos também muito distintos. Encontraremos filósofos como Nietzsche (1844-1900) criticando a cultura e até mesmo a racionalidade ocidental. O alemão inventou o método genealógico, demonstrando como grandes conceitos filosóficos como “verdade” e “bem” são historicamente inventados e não metafisicamente descobertos. De outro lado vemos surgir a fenomenologia de Husserl, cujo método influenciou decisivamente uma nova investida metafísica por Heidegger e a criação da corrente existencialista. A filosofia heideggeriana exibe uma linguagem obscura, quase impenetrável e o existencialismo trata de temas bastante subjetivos como angústia, liberdade, desespero, tornando-se dificilmente diferenciado da literatura. De outro lado veremos o surgimento de outros críticos sociais como a Escola de Frankfurt e o francês Michel Foucault (1926-1984) que funda uma filosofia como arqueologia do saber.
                Essa breve exposição, diga-se de passagem, permite compreender que a divergência entre analíticos e continentais sobre o papel dado à filosofia favoreceu um progressivo distanciamento do modo como se faz filosofia na Europa continental do modo com aquela é feita nos países anglo-saxônicos. Obviamente tal diferença incide no modo como se ensina filosofia que é o objetivo central deste texto. Na próxima seção discutirei a divergência entre as duas tradições advertindo, no entanto, que muitas das questões que se apresentarão já foram superadas ou estão encontrando compreensão mútua entre analíticos e continentais.

2. Diferentes métodos, diferentes modos de compreender a filosofia.

                A filosofia continental sofre de uma grande dificuldade em estabelecer o que é filosofia e qual o seu método próprio. De fato é consenso para os continentais que filosofar seja uma pensar rigoroso sobre o mundo e a realidade, mas nem sempre os pensadores dessa tradição deixam claro como se faz isso.  Em geral um filósofo é entendido como tal pelo reconhecimento dos intelectuais e acadêmicos. Além disso, em decorrência das várias críticas feitas pelos filósofos continentais à noção de “verdade” e devido à influência das ciências humanas como antropologia, sociologia, história, hermenêutica e crítica literária torna-se muito difícil criar fronteiras claras entre essas disciplinas e a filosofia. Há uma tendência grande ao relativismo próprio dessas áreas acima citadas. Entendamos essa tese da seguinte maneira: a filosofia é o produto cultural da história ocidental, como todo produto cultural, é relativo ao contexto e não constitui uma verdade definitiva. O que nós temos na filosofia, portanto, não são afirmações teóricas que podem ser julgadas como verdadeiras ou falsas. São apenas reflexões historicamente situadas que explicam muitas das nossas concepções atuais sobre o corpo e a alma, Deus e mundo, liberdade e política, moralidade e estética. Assim explicamos muitas das atitudes tomadas por instituições como a Igreja ou o Estado.  A ausência da noção de uma verdade para além da erudição e da confirmação de nossos pontos de vista preferidos cria uma falsa ideia de que a filosofia é apenas o estudo do pensamento de Platão ou Aristóteles ou Descartes ou Heidegger[1]. Essas dificuldades tornam quase inevitável que o título de filósofo caiba somente aos clássicos e aos chamados “gênios”.  Nessa perspectiva, a filosofia é uma atividade de poucos iluminados e um professor de filosofia tem um grande receio de chamar-se “filósofo”, como se estivesse colocando-se ao lado desses grandes nomes do pensamento ocidental. A reverência aos clássicos e o método genealógico/arqueológico acabam fazendo com que o pesquisador da filosofia continental desenvolva sua investigação somente na linha da pesquisa histórica e hermenêutica. Fazer filosofia confunde-se com fazer história da filosofia. Os graduandos e pós-graduandos em cursos de filosofia são incentivados a aprofundar nos conceitos e teorias dos filósofos consagrados, certos de que aprendem filosofia ao compreender os filósofos.
                Contrariamente à perspectiva continental, os filósofos analíticos encontraram um relativo consenso sobre o que é filosofia e qual o seu método. Para os filósofos da tradição analítica a filosofia é o exame crítico das nossas crenças e seu método a discussão crítica. Nessa tradição a filosofia é vista como uma investigação de problemas centrais que só podem ser resolvidos por meio da argumentação. Aqui já há uma diferença em relação à filosofia continental, pois é fácil perceber quando um problema não é filosófico: quando há meios de empíricos ou matemáticos capazes de fornecer uma resposta adequada a esses problemas. O domínio da filosofia é a investigação teórica argumentativa, que busca o esclarecimento dos conceitos, a formalização dos argumentos e sua análise quanto à validade da forma e quanto à verdade do conteúdo de suas premissas. Todas as áreas da filosofia são passíveis de análise: Metafísica, Epistemologia, Ética, Política, Estética, Lógica etc. O que marca, portanto uma filosofia de caráter analítico não é o domínio de um ou outro filósofo em particular, mas um modo de tratar os diversos problemas tradicionais da filosofia. Os filósofos dessa tradição procuram atacar os problemas diretamente e interessam-se geralmente por um ou outro texto clássico somente na medida em que este pode oferecer uma resposta plausível ao problema em questão ou quando essa resposta é problemática, incorrendo em erros lógicos ou de confusões lingüísticas. Nesse sentido, não há nenhum pensador “intocável”, pois qualquer grande nome da filosofia pode ter sugerido uma resposta falaciosa para o problema que se propôs. Por outro lado, os filósofos analíticos estão em constante contato uns com os outros por meio dos periódicos e congressos internacionais, criticando-se ou apoiando-se mutuamente de modo que não é raro encontrar pensadores que modificam suas posições originais depois de uma crítica bem fundamentada (podemos ver exemplos claros disso em Frege, Wittgenstein ou em Hilary Putnam).
                Muitas vezes houve e ainda há críticas recíprocas entre analíticos e continentais. Os primeiros acusam os últimos de relativismo e falta de compromisso com a verdade, enquanto estes tratam aqueles como cientificistas dogmáticos e negligentes com papel da história. Tais críticas são estranhamentos normais e revelam um conhecimento apenas superficial da outra parte. É importante reiterar que essa situação está se modificando rapidamente e já é muito comum encontrar representantes da filosofia analítica na França e na Alemanha (para citar dois países de grande tradição continental) e muitos filósofos formados na tradição anglo-saxônica com interesses genuínos na história da filosofia e nos temas recorrentes da filosofia continental.

3. Implicações pedagógicas

        Depois de compreender a natureza da filosofia para os filósofos continentais e analíticos, cumpre extrair daí consequências práticas para o ensino da disciplina filosofia. Algumas delas já foram alusivamente citadas anteriormente. O que parece muito claro é que o que se entende filosofia determina o tipo de ensino.
A filosofia continental parte da noção de filosofia como atividade reflexiva de alguns gênios. Seu ensino passa pela multiplicidade de autores considerados clássicos e suas ideias ao longo da história. O método de ensino é o genealógico observando, mesmo quando trata-se de temas filosóficos, uma ordem cronológica. O ensino tende ao ecletismo e ao relativismo, na medida em que a preocupação é que o estudante saiba quem foi e o que pensou fulano ou sicrano. Os manuais de filosofia podem variar seu conteúdo sensivelmente e podem apresentar capítulos que dificilmente são de fato temas filosóficos. Podemos, por exemplo, encontrar capítulos dedicados à mitologia (questões de religião) ideologia e ao trabalho alienado (temas sociológicos), à formação psicológica da consciência moral (psicologia), história das ciências (história), entre outros. Isso torna difícil diferenciar a atividade filosófica dessas disciplinas envolvidas. Quando há capítulos dedicados à lógica, esta geralmente é ensinada somente na tradição aristotélica e dificilmente se relaciona com os demais capítulos e os problemas filosóficos destes. Textos de filósofos são apresentados em breves trechos ou boxes de leitura complementar com algumas questões de compreensão. (Paradigma: Filosofando)
Já a filosofia analítica parte da noção de filosofia como análise crítica das crenças, de modo que o interesse do ensino passa por uma acentuada formação na lógica (proposicional) e na argumentação. Somente depois de bem estabelecidos os instrumentos de análise crítica e argumentativa, o estudante é convidado a compreender determinados problemas filosóficos para os quais várias soluções são formalizadas e postas à prova. O aluno precisa identificar os principais argumentos contrários e favoráveis a determinadas soluções para problemas fundamentais. Um tema, por exemplo, como o livre arbítrio, é apresentado como problema a ser investigado diante de perspectivas deterministas, libertistas e compatibilistas. Todas essas respostas ao problema estudado são também elas problemáticas e o aluno precisa compreender cada uma e assumir uma delas de modo bem argumentado. As posições filosóficas pertinentes ao problema em questão são ilustradas com um excerto de filósofo clássico ou contemporâneo diante do qual há questões de mera interpretação e outras de argumentação. (Paradigma: A Arte de Pensar)

3.1. Do ponto de vista continental, temos alguns problemas:

A) Filosofia como história da filosofia
B) O mito do “gênio” 
C) Elogio da forma em detrimento do conteúdo


A) Já nos referimos ao problema da centralização da história da filosofia. Uma questão que se impõe é de ordem lógica: se existem filósofos para serem estudados, então deve existir uma filosofia que consiste no que eles fizeram. Mas onde está a filosofia?  Um aluno pode ser bem treinado em responder o que pensou este ou aquele pensador. Quero propor duas diferentes perguntas para exemplificar onde pretendo chegar:

1 – Como Descartes provou a existência de Deus?

Essa é uma pergunta cuja resposta depende unicamente de conhecer a história da filosofia moderna, de modo especial, da leitura de Descartes ou de algum comentador.

 Vejamos agora uma pergunta ligeiramente diferente:

2 - Descartes conseguiu, de fato, provar que Deus existe?

Teria o mesmo estudante capacidade de argumentar com rigor afirmativa ou negativamente em resposta a essa pergunta? A razão para distinguir as duas perguntas é simples: a resposta a 1 a demanda domínio da história da filosofia. Já uma resposta 2 requer que o aluno seja também ele capaz de filosofar. Só há um tipo de resposta padrão para perguntas do tipo 1. Mas há muitas possibilidades de respostas para 2.
Esse simples exercício serve de advertência para duas maneiras de fazer história da filosofia. Uma história da filosofia que seja uma coleção de autores e teorias que o aluno precisa decorar e saber nos exames ou uma história da filosofia que se preocupa em analisar e criticar as posturas dos grandes filósofos, introduzindo o aluno na arte de pensar.

B) O mito do “gênio” foi denunciado por Kant em sua famosa frase em que diz: “não é possível aprender filosofia, só é possível aprender a filosofar”. Trata-se de pensar por si próprio, aprendendo o método investigativo da filosofia e não uma filosofia acabada, do autor X ou Y.  Não significa com isso que não devamos estudar os autores clássicos, mas que esses autores não devem ter a última palavra nos problemas estudados. Não sem antes investigar, esgotar outras possibilidades. Ocorre que tratar filósofos como “intocáveis” torna impossível o surgimento de novos filósofos. Se a filosofia for vista como um modo de tratar questões fundamentais e os alunos forem progressivamente conhecendo esse método, é possível que eles compreendam que também podem filosofar, descobrir novos argumentos a favor do livre arbítrio, ou contra o ceticismo, ou que um filósofo famoso cometeu certo deslize.

C) Talvez seja um problema menor a preocupação estilística da escrita em detrimento da clareza conceitual. Mas isso pode levar a confusões sobre o que é próprio da filosofia e o que é domínio da literatura. Embora os filósofos analíticos tenham destacado o papel da linguagem na resolução de problemas filosóficos e reconhecendo a dimensão discursiva da filosofia, é necessário entender que o objetivo central de qualquer filósofo não é agradar o leitor mas provar algum ponto. Se o estudo da filosofia for apenas um desfile de teorias e filósofos, é bem possível que o aluno não entenda o que fazer com isso. Se o encontro com a filosofia for no sentido de propor investigar a verdade ou falsidade de certas crenças metafísicas, éticas, políticas e epistemológicas, então há uma outra perspectiva em que a filosofia torna-se fundamental para o desenvolvimento crítico do aluno.

3.2. Problema do ensino de filosofia analítica: ausência de uma visão histórica

Basta recorrer a algumas obras de introdução à filosofia escritas por filósofos analíticos para perceber que não há a menor intenção de tratar a filosofia sob uma perspectiva de nomes e datas (ver, por exemplo, NAGEL, Thomas. Uma breve introdução à filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WARBURTON, Nigel. Elementos básicos de filosofia. Lisboa: Gradiva, 1998 e LAW, Stephen. Guia ilustrado Zahar: Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.) Embora tenhamos argumentado repetidamente contra uma confusão entre filosofia e sua história, cabe aqui ponderar que conhecer o contexto em que determinada ideia surgiu também pode ser estimulante para os estudos filosóficos. Enquanto recomendávamos na perspectiva continental sobre a importância de a história da filosofia ser estudada filosoficamente sob pena de não se ensinar filosofia, na perspectiva analítica a recomendação é a de não negligenciar o papel da história na formação filosófica. Certamente vários argumentos podem ser melhor compreendidos dentro do contexto em que surgiram e parece ser falho um ensino de filosofia que não atribui  uma ideia ao seu devido autor. Isso ocorre, por vezes, quando o professor, tentando tornar a filosofia palatável ao aluno de ensino médio, não oferece a leitura sequer de excertos do texto de onde o argumento explicado saiu.  Isso sem dúvida é um problema pois o aluno pode terminar uma formação filosófica sem a habilidade de ler textos filosóficos (PCN).

BIBLIOGRAFIA:
ALMEIRA, Aires; TEIXEIRA, Célia; MURCHO, Desidério; MATEUS, Paula; GALVÃO, Pedro. A arte de pensar: filosofia 10º ano. 4.ed. Lisboa: Didáctica editora, 2009.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4.ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009.
CID, Rodrigo Reis Lastra. Práticas filosóficas e práticas pedagógicas em filosofia. Cadernos UFS Filosofia pp. 87-95
COSTA, Claudio Ferreira. Filosofia analítica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992.
FOLSCHEID, Dominque; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica. Guia de livros didáticos PNLD 2012: Filosofia. Brasília: Mistério da Educação, 2011.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 1999.
VVAA. Filosofia da educação a partir do diálogo contemporâneo entre analíticos e continentais. Abstracta. 1:1 pp. 92 – 107, 2004



[1] É preciso esclarecer a ênfase no “apenas”. Não podemos negar que seja importante o recurso à história da filosofia. Ao contrário, é necessário o conhecimento sólido nessa disciplina para avançar com proveito no itinerário filosófico. Mas é preciso estabelecer que a história da filosofia está para o filosofar como a história da música para tocar um instrumento musical. Sem dúvida o filósofo pode ganhar muito com o domínio dos textos da tradição filosófica, assim como o músico enriquece sua arte com o conhecimento da história das músicas e autores que aprende a admirar. O que não está muito claro é se um historiador da filosofia ou historiador da música pode ser apropriadamente um filósofo ou um músico, já que é possível fazer história da música sem saber um único instrumento musical e história da filosofia sem propor uma única contribuição própria à filosofia.

5 comentários:

  1. Sinceramente discordo que a filosofia continental faça apologia a gênios. Não vi isso nos cursos que eu fiz, pelo menos. Acho que o problema número 1 é sua maior lacuna.
    E acho que você pegou muito leve nas críticas à filosofia analítica. O desapego à História leva-a a desprezar questões sociais e isso sim é o mais grave.

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    1. Olá, Ti Carioca. Agradeço pelo comentário. Acredito que o mito do gênio seja consequencia da redução da Filosofia à sua história. Se tudo que devemos estudar é HF, então não há espaço para pesquisas que não sejam "O conceito de X em Y" (veja os nomes das teses e dissertações dos programas de pós-graduação nas universidades brasileiras). A filosofia analítica tem reconhecido e produzido recentemente boas obras de HF (veja, por exemplo, a excelente obra de Anthony Kenny). Discordo de vc, no entanto, sobre o desprezo a questões sociais. 1) A filosofia política de cunho analítico recuperou a discussão sobre "Justiça" (veja Raws, Sen, Sandel, McIntyre, Nozick), "distribuição de renda", "ações afirmativas", "desobediência civil" etc. 2) Dado o caráter teorético da filosofia, não sei se cabe à mesma mais do que discussão dos conceitos análogos a 1. Seria como acusar a física porque não resolve problemas educacionais. 3) Em sequência, acredito que a Sociologia sim tem a sociedade como objeto de estudo e pode propor intervenções sociais. É claro que essas intervenções seriam apoiadas num determinado conceito de "justiça social".

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  2. Bom, chará, nós temos concepções muito diferentes do que é a filosofia. Eu não acho que ela seja apenas de caráter teorético. Pra mim ela é uma disciplina social, que deve influenciar diretamente a sociedade, com ações práticas mais diretas. E é exatamente o que as obras da maioria dos analíticos não faz.
    E eu ainda acho que autores como Rawls e Nozick reacionários de direita. É nas tradições francesa e alemã que se encontram críticas radicais da sociedade moderna. O universo anglo-americano não consegue sair do liberalismo de sempre. Roda em círculos. Tenta ser "crítico", mas está sempre dentro do status quo. Por isso a filosofia analítica é tão desprezada fora dos círculos de filosofia no Brasil. Nunca vi um estudante de História estudar essa tradição, enquanto a base teórica da História e das Ciências Sociais no Brasil e América Latina continua sendo os franceses e alemães.

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  3. Olá Ti Carioca. Desculpe pela demora em responder...estive ocupado com a minha mudança para outro estado da federação.

    Tenho uma explicação muito mais simples de porque certos filósofos continentais são atraentes para determinados cursos de história e de ciências sociais: eles fizeram exatamente história e ciências sociais. Quando Foucaut escreve sobre a história da sexualidade, ou sobre a loucura ele faz história, ainda que intercale com questões filosóficas. Quando os pensadores da Escola de Frankfurt procuram estudar a sociedade de consumo, eles fazem sociologia. Não há nada de mal nisso...Assim como Descartes também era Geômetra e Leibniz um matemático.

    Mas confesso que acho muito estranho esperar que o reconhecimento da filosofia analítica venha de historiadores e cientistas sociais. Como também acharia no mínimo uma confusão conceitual criticar filósofos franceses contemporâneos por não serem citados nos cursos de matemática das universidades de qualquer lugar que seja.

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  4. Putz... te respondi... mas acho que deu erro... e não foi... e não tinha salvado... que merda... deu preguiça de responder de novo... depois faço isso!! hehehhe
    Boa sorte no novo endereço!! Abraços!

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