01 julho 2009

Ensino de Filosofia



A legislação brasileira sobre educação reconhece, ainda que timidamente, a importância da Filosofia (e da Sociologia) na formação de pessoas críticas e cidadãs. No entanto, só a partir de uma lei sancionada pelo presidente Lula no ano de 2008 essas disciplinas tornaram-se obrigatórias no currículo do Ensino Médio.

Talvez por essa razão, há muita discrepância na maneira como os professores tratam o ensino de filosofia. Há, igualmente, uma imensa quantidade de livros didáticos cujos objetivos pedagógicos são muito díspares. Uns visam o ensino da História da Filosofia, outros preferem o tratamento por Temas Filosóficos. Alguns textos voltados para adolescentes beiram a auto-ajuda e poucos realmente pensam no livro como material didático para uma determinada etapa da formação do adolescente.


A meu ver, o ensino de Filosofia deve mesclar métodos, recursos e conteúdos, de forma a proporcionar ao aluno a oportunidade não só de conhecer o pensamento filosófico de pensadores da tradição (história da filosofia), mas refletir sobre os principais problemas filosóficos (temas de filosofia) de maneira crítica e participativa. Isso se refere ao binômio apontado por Kant entre aprender filosofia e aprender a filosofar. Para esse filósofo iluminista, ao invés de falarmos de um ensino conteudista, deveríamos tratar de fomentar a maioridade intelectual, ou seja, a faculdade de pensar por si mesmo.

Essa exigência filosófica da autonomia do pensar é, por si só, um desafio para o professor. Ainda mais levando-se em consideração certos déficits de aprendizado e maus hábitos de estudo com que a maioria dos alunos chega no ensino médio. Some-se a isso a reduzida carga horária que a disciplina Filosofia tem nas escolas.

Apesar disso, considero extremamente importante que o adolescente possa ter contato com os textos originais (mesmo que em pequenos fragmentos de textos) dos filósofos mais influentes de determinadas épocas, versando sobre temas que continuam sendo refletidos no mundo de hoje. Essa é, aliás, uma demanda apontada pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais, do MEC) de Filosofia: "ler textos filosóficos de modo significativo e ler filosoficamente textos de outros registros".

Conforme a idade e maturidade intelectual dos alunos, vejo como recurso interessante tratar de temas filosóficos, sem descuidar de mostrar como tais problemas instigaram pensadores ao longo da história.

Para citar um exemplo, poderíamos tomar o tema "Ética". Podemos começar por uma tempestade mental, passar para uma tentativa de conceituação, comparar a etimologia com o sentido comum atribuído a essa palavra. Podemos dizer o que a ética não é, poderíamos recorrer a casos reais, a discussões de cunho ético sobre assuntos atuais e, enfim, olhar para a história da filosofia e perceber como grandes pensadores da Ética se posicionavam quanto a esse ramo da filosofia que trata do agir humano. Assim, o aluno poderia tomar conhecimento de alguns trechos dos próprios filósofos, como Ética a Nicômaco (Aristóteles), Livre-Arbítrio (S. Agostinho), Fundamentação metafísica dos costumes (Kant), Genealogia da Moral (Nietzsche) etc. A meta seria o estudante perceber que não há uma resposta simples para o problema moral, que os filósofos discordam entre si e que o aluno pode também ensaiar uma reflexão própria sobre o agir humano do ponto de vista ético.

Por fim, uma breve advertência: a lei obriga, mas não convence da importância da filosofia na formação dos nossos jovens e adolescentes. Esse é um trabalho que o professor provavelmente vai enfrentar sozinho, nadando contra a corrente do imediatismo, da preguiça intelectual e do enfoque exagerado nas exigências dos vestibulares e ENEMs da vida. A inclusão da filosofia não trará, de imediato, uma melhoria qualitativa na educação do país. Deve haver paciência e persistência de professores, alunos, pais e diretores que, convencidos do significado que a autonomia do pensar tem para a formação de seres humanos críticos, deem crédito e tempo para que a filosofia se estabeleça no ensino.

2 comentários:

  1. Acho importante que o jovem tenha noções da história da Filosofia, como ela foi se aprimorando até os dias atuais e também é importante que o professor desperte nos alunos a vontade de filosofar, perguntar, questionar, refletir. Mas infelizmente, os próprios estudantes (ainda) não levam a sério as aulas de filosofia e essa nem é tida como "matéria séria", um dos maiores erros que comentemos.
    Muito bom seu texto e obrigada por visitar meu blog!
    Abraços,
    Cecília (Sagrado)

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  2. Obrigado, Cecília.

    É por causa de alunas como vc que o professor não deve desanimar de provocar a reflexão filosófica nos estudantes. Espero estar fazendo meu papel

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