05 março 2008

Quebrando as regras

Quando tratamos do ser humano, falamos de um animal capaz de se reinventar a cada dia. É justamente por essa flexibilidade potencial que temos necessidade de parâmetros, valores e regras. Nós nos perguntamos como viver melhor, como conviver bem com os outros, como devemos proceder em cada ocasião. Queremos definir o certo e o errado.

Isso, porém, não significa que queremos seguir as regras o tempo todo. Talvez a única norma universalmente válida para o ser humano seja a transgressão das normas.

Tal situação é afirmada no conto "A igreja do Diabo", de Machado de Assis. O texto conta da formação de uma religião do egoísmo, vícios e maldade. No entanto, para a surpresa do Diabo, os seus adeptos transgrediam as normas para fazer o bem vez por outra, às escondidas. Eram "tentadas" a comportar-se bem e sucumbiam a esses bons desejos.

O gênio criativo de Machado de Assis não deixou de expressar com realismo a mania de violar regras que os seres humanos têm. Isso não é uma acusação e nem uma apologia. É simplesmente uma constatação.

A transgressão não é contraditória com a necessidade de normas que o ser humano tem. Pelo contrário, é preciso que haja parâmetros de conduta para que haja sua violação. Nossas normas são os padrões nos quais nos espelhamos, mas são palavras fixas num papel, ao passo que nós somos constante mudança, eterno recriar-se.

É por isso que somos transgressores. Não é por maldade, mas por necessidade de nos superar, por desejos sempre insatisfeitos, sempre novos, como nós mesmos.

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